segunda-feira, 9 de julho de 2007

Trade-off

No Sítio das Artes há divisórias para demarcar e identificar o espaço que ocupa cada um dos artistas em residência no CAMJAP. A marca de Inês Botelho foi subvertida, logo indiciando as questões que o seu trabalho trata. Inês virou ao contrário a placa onde o seu nome estava recortado (tal como acontece com todos os outros artistas) e colocou-lhe um fundo. O nome dela passou a estar invisível, transformando o seu espaço em «não-espaço». Está dado o mote.


© Henrique Figueiredo

Numa das paredes está em construção um projecto a que chama «protótipo de divisão de espaço». As estacas estão a ser coladas na parede, posicionadas de forma complexa, para se susterem umas às outras. «Há uma linha que divide o espaço, mas que também liga os pontos de sustensão. Existe uma divisão, mas por outro lado uma unificação», explica-nos. Na parede oposta estão afixadas fotografias entre as quais se encontra uma vista aérea da fronteira entre o México e os Estados Unidos.

Formada em Belas Artes, Inês Botelho (Lisboa, 1977) viveu e estudou recentemente em Nova Iorque. Foi aí que participou no Conflux, festival anual onde se explora a "psicogeografia contemporânea". O trabalho que apresentou consistia materialmente numa grande tenda, que apenas proporcionava um espaço útil quando 'habitada'. A estrutura dependia da participação de quem se encontrava no interior, pois para que se mantivesse de pé era necessário que as pessoas segurassem nas estacas. É uma instalação nómada, cujo próximo destino será Madrid. Como título, "Original Spacio Social". Inês diz-nos que a palavra 'original' tem a ver com «o pecado original», no sentido em que desde sempre a disputa dos espaços, a territorialização, está na origem dos conflitos, à escala local e global.

"Casas inabitáveis atingidas por vizinho demasiado agressivo e vizinho demasiado generoso" é uma variante desta dinâmica. Inês Botelho explora essa relação de tensões, de poder, de hierarquias, onde se entra num jogo físico e ético, como em "Gravidade e Graça" - que remete para a obra de Simone Veil. Imagine-se uma corda na qual está pendurado um habitáculo cuja forma (ter espaço útil ou não) depende do comprimento dessa corda. Imaginemos duas pessoas (grupos, comunidades, organizações, países?): uma segura a corda, decide o seu comprimento ou pode mesmo não segurar a corda. Do outro lado temos uma pessoa que está sujeita a essas decisões. Ou não, «pois pode optar pela liberdade, ainda que ficando sem 'casa'». Não é uma questão de equilíbrio, mas antes de trade-off.

14 comentários:

Anónimo disse...

Arte de ser esquivo

territorio inexpugnavel
limites sabiamente definidos
queres chegar e
nao sabes como.

Anónimo disse...

Arte de ser esquivo 2

Procuras a corda.
Perguntas-te se existe.
Como chegar?

Anónimo disse...

Arte de ser esquivo 3

Criar espaço
Amar a casa
Estar vivo
Ser livre

Estender fios
Juntar vontades
Despertar o Amor
Colher o dom.

Bastar as sim?

Anónimo disse...

Arte de ser esquivo 4

nao quero
mais
dizes e
nao te cansas
por te quererem
muito.

Anónimo disse...

Arte de ser esquivo 5

XLIV

"Nem eu sei que fazer: o pensamento dividido"


Eugénio de Andrade,"Poemas e fragmentos de Safo",Circulo de Leitores,1987

Anónimo disse...

Arte de ser esquivo 6

... delicadamente ...

Anónimo disse...

Arte de ser esquivo 7

"...
Procura-o procura-o
Sabe Deus por onde
De tanto procurar nao tarda em perder-se."

Eugénio de Andrade,"Trocar de Rosa",Vasko Popa, Circulo de Leitores,1987

Anónimo disse...

A arte de ser esquivo 8

a Terra vista de longe...

Tu decides.
Mas bem sabes que
vistos de longe
aqui
neste planeta
dormimos todos
juntos.

Anónimo disse...

Arte se ser esquivo 9


Le lendemain matin une petite voix l'a reveillée:

- Nous avons manqué le rendez-vous.
- Où étais- Tu -?

Anónimo disse...

Nota: A arte de ser esquivo 8
cf. "O Belo adormecido" de Lidia Jorge, Dom Quixote, 2004.

Anónimo disse...

Arte de ser esquivo 10

Gostar do sim.
Um abrigo
o sim.
O do outro.

Anónimo disse...

Arte de ser esquivo...

L'un ferme doucement la porte
L'autre aime y perdre la tête

Anónimo disse...

Arte de ser esquivo 12

UM MOVER DE OLHOS

Porque te voltas se
antes de eu chegar
te inclinavas para mim?


Gostas de te surpreender.
A tua cabeça levanta-se num movimento rápido.
Os teus olhos duros disparam e
concertadamente regressas a ti.
Sabes que me tens
contigo.

Anónimo disse...

Arte de ser esquivo 13


Por que te voltas
se te inclinavas
antes de eu chegar ?

Gostas de te surpreender.
Até ao último minuto o teu texto tem espaço para mais um personagem.
Levantas a cabeça em movimentos rápidos, queres vê-lo chegar.
Armas o teu sorriso de criança, os olhos de fora prontos para disparar.
Deve ter entrado, pois os óculos brincam agora nas tuas mãos. Os dedos substituem-nos; caminham no texto, jeito inaugural que não queres perder: o prazer do início.
Podes finalmente entrar em ti, esquecer a plateia.
Sabes que me tens contigo.