terça-feira, 10 de julho de 2007

Da ideia ao gesto

Depois de terminar a licenciatura em Escultura, Ana Santos (Porto, 1982) decidiu 'abandonar' as (grandes) instalações que fazia até então. Essencialmente, por razões que se prendem com a escala. A opção de trabalhar com objectos de menor dimensão trouxe-lhe a possibilidade de ganhar velocidade, rapidez, na medida em que a relação entre ideia e gesto é mais directa. Simplificou o processo de trabalho, tecnicamente. Hesitou definir essa opção como "filosófica", pois no fundo esse controlo total sobre o objecto, sem exigências técnicas de maior, com a possibilidade de integrar diferentes materiais, é o que permite uma linguagem mais próxima do pensamento. Mas há um outro aspecto que refere: «Acho que a interacção com o espectador [nas instalações] pode ser uma falsa questão. Às vezes é preciso criar uma distância dos objectos.»


© Henrique Figueiredo

Numa parede temos dois amendoins que a Ana envolveu em folha de ouro (imitação de). Estão lá como marca, numa escala precisa, «a escala certa». Uma associação estranha de materiais? Não mais do que o chocolate com o alumínio, que estão ainda a ser trabalhados a um canto junto à janela, no chão do seu espaço de residência no Sítio das Artes. Aqui o alumínio tem uma carga simbólica, porque está associado ao Minimalismo, embora logo de seguida Ana Santos faça a advertência de que não é minimalista.

Com apenas balsa (material que os arquitectos utilizam para fazer maquetes) e um xisacto, construiu três peças de um "Abcedário Irreconhecível", que também estão afixadas. Mas se lhe perguntarmos qual é o projecto dela, responde sem hesitações que é o Desenho. «Estou sempre a trabalhar no mesmo desenho, embora formalmente tenha resultados muito díspares. Se essa procura resultar bem, resulta no mesmo desenho.»

A nossa conversa tinha começado pelo papel, que é para ela mais do que matéria-prima: é um Objecto. Corta-o, pinta-o, utilizando muito o preto e o cinzento. O processo de trabalho há-de terminar em breve, quando fizer a montagem destes objectos, relacionando-os entre si no espaço de exposição, para o Open Studio de dia 28 de Julho no CAMJAP. E chegamos ao fim sem pedir mais explicações, concedendo que «estas coisas existem porque não se verbalizam...».

5 comentários:

Anónimo disse...

Encantam estas aproximaçãos - conversas - de delicadeza, cuidado, atenção ao trabalho dos artistas mais jovens. Uma apresentação em suspenso, que dà espaço ao criador, e ao mesmo tempo o ampara no seu dizer. Feita de aberturas, de suspensões ...
Da-nos o acto directo de apreensão do observado...


"E chegamos ao fim sem pedir mais explicações, concedendo que «estas coisas existem porque não se verbalizam...».


A forma como estes jovens "vivem" a arte dà-nos que pensar...
Não hà barreiras entre a vida, a sua vida, e a criação. é uma postura nova de "desvelamento". Muita coragem, e força no ser/estar assim.

Anónimo disse...

"Da ideia ao gesto"

O Tempo e o Modo e os Homens nele,
no nosso tempo, de algumas boas mudanças que tiveram inicio com os novos equipamentos culturais e no que la aconteceu e continua. Afirmaram-se os Homens e a obra, entram em amavél convivência com o dia-a-dia da cidade: Culturgest,CCB, Parque das Nações, Rede de Bibliotecas Publicas.Os equipamentos servem o Pais, os Homens, alguns, continuam a obra, ali ou noutro lugar. Alguns, discretos, continuam a sonhar connosco aqui o presente e o futuro. Outros, mais dados ao clamor do mundo, têm tido dificuldade em estar. O lume de um momento parece tê-los queimado, incapacitado para outras obras. Vivem do passado, e essa recordação amarra-os e cria neles e naqueles que os substituiram o sentimento de que nao se pode fazer melhor...
As vezes afastam-se, para poderem voltar. Mas o tempo passa...

Anónimo disse...

«estas coisas existem porque não se verbalizam...».

... nao se verbalizam, intuem-se. Mas a forma impõe-se, por isso "digo"...

Anónimo disse...

"Da ideia ao gesto"... a pensar em Cecilia Meireles


Do grão ao fruto.
Do fruto ao pão.

O pão na mão?
Nao.
O pão na boca.

Anónimo disse...

tao bonitos!
li que os chineses fazem cha com folhinhas de ouro muito finas...
cha de ouro...
amendoins de ouro...