segunda-feira, 30 de julho de 2007

Habitar


© Henrique Figueiredo

A obra de Max Rosenheim torna-se uma demonstração clara da aporia de Robert Filliou, segundo a qual a arte é aquilo que nos demonstra que a vida é mais interessante do que a própria arte. Cada projecto do artista resulta da intersecção de um programa de vida com o processo artístico que dele advém e o subverte nas suas expectativas de reconhecimento. O artista integra-se em contextos que lhe são estranhos, nos quais faz acontecer eventos ou origina situações que subvertem as regras sociais que caracterizam tais contextos, afirmando um lugar ambíguo para a sua própria identidade, entre a camuflagem do jogo social no qual se integra e o desvio dos comportamentos que esse mesmo jogo social condiciona e determina.(...)

João Fernandes in Catálogo do Prémio EDP Novos Artistas 2003

Em Julho de 2007 estas observações sobre o trabalho de Max Rosenheim (Madrid, 1979) parecem manter a sua actualidade. Antes de terminar o Sítio das Artes acompanhámo-lo até junto dos jardineiros da Fundação Calouste Gulbenkian, porque tinha em mente fazer-lhes uma proposta para um futuro próximo: «Quero trabalhar um dia inteiro com eles, faço o que me mandarem e no fim gostava de tirar uma foto com o grupo.» Max fala-nos de uma necessidade de se relacionar com o espaço, conhecendo os funcionários e as suas rotinas. Refere o conceito de «habitar» de Heidegger, de «habitar através do fazer, do relacionamento com as pessoas através do trabalho». O jardineiro responsável surpreendeu-se e respondeu-lhe que para tirar uma foto não precisaria de trabalhar com eles. Max esclarece, sorrindo: «Eu quero é trabalhar, a foto é só uma desculpa.»

Durante a residência no CAMJAP, montou uma cozinha num espaço comum a todos os artistas, para fazer jantares, juntando e envolvendo toda a gente. Esta interacção é essencial para Max, e pela mesma razão todas as quintas-feiras à noite também organizava e fazia de «mestre de cerimónias» nas sessões de contos no Jardim. Todos participavam, numa iniciativa que pretendia «recuperar uma tradição oral muito importante.»

Até ao dia 28 de Julho, por contingências de arrumação do espaço para preparar o Open Studio, da cozinha só restou o fogão - uma das «situações residuais» que resultou dos projectos que Max foi desenvolvendo durante quase dois meses em residência. «A impossibilidade produz uma espécie de diálogo», tal como aconteceu com a rede que quis colocar no Jardim da Fundação, entre duas árvores. Não teve autorização para o fazer, experimentou várias soluções e a rede acabou por ficar no interior. Todos as pessoas que entretanto por lá passaram puderam desfrutar dela, uma forma de se «habitar».

1 comentário:

Anónimo disse...

Titulos...

Antes de tudo (mais do que tudo ?), a beleza que aparece de chofre nos titulos: a pele do fruto ja doce aos olhos, aos ouvidos, ao coração. Promessa certa do prazer/fruição que vira depois com o texto...