sexta-feira, 27 de julho de 2007

Dancefloor

Susana Guardado (Lisboa, 1971) tem trabalhado essencialmente para galerias e como DJ. Quando iniciou a sua residência no Sítio das Artes sentiu que a oportunidade era única para não se deixar condicionar pelo projecto com que se tinha candidatado e procurou criar as suas instalações também a partir da sua vivência na Fundação Calouste Gulbenkian nestes últimos dois meses. Filmou-se a fazer dj'ing para si própria em três espaços distintos, onde se mistura o som ambiente com a música electrónica que sai da mesa (de mistura) que Susana utiliza. No Jardim, depois do sol se pôr, temos grilos, rãs, aviões a passar; na casa das máquinas (subterrâneos), o seu ruído característico; e na ala (também nos subterrâneos) onde se guardam 'os grandes instrumentos' utilizados pela Orquestra Gulbenkian, há silêncio, mas os instrumentos em si proporcionam uma sonoridade visual, por associarmos cada um deles ao som que produzem: as cordas, os metais, entre outros.

A vivência partilhada com outros artistas no espaço do CAMJAP deu origem a várias colaborações, pela «contaminação». Susana responsável pelo som, como aconteceu numa apresentação de Maria Gil, a que se juntou ainda João Paulo Serafim (a improvisar projecção de imagens).



© Henrique Figueiredo

A experiência com os leques tem a ver com a construção de batidas pop, simples, procurando uma composição rítmica específica, pela repetição. O resultado é acústico, mas também electrónico, porque o som está ampliado e ouve-se em colunas. O efeito do leque que vai rodando e abrindo - utilizando um motor de bolas de espelho - é simultaneamente sonoro e visual.

Houve ainda uma placa que a carpintaria lhe tinha trazido para supostamente completar o seu espaço no CAMJAP, mas o facto de vir cheia de marcas de sapatos (que iriam ser limpas) fez com que Susana transformasse a 'parede' em 'chão'. Uma superfície vivida, como se olhássemos o chão de uma discoteca em fim de noite passada a dançar.

1 comentário:

Anónimo disse...

Ha música no silêncio...

"Desconcertadamente juntos..."

"...há silêncio, mas os instrumentos em si proporcionam uma sonoridade visual, por associarmos cada um deles ao som que produzem: as cordas, os metais, entre outros."

Como é possivel (e este é para nos o grande enigma), a convivência harmoniosa de dois sentidos, que à maior parte de nós parece antagónica, senão impossível ? Expliquemo-nos: a aliança de uma grande sensibilidade amorosa a um espírito pratico.

Uma convivência inusitada conseguida à custa de uma racionalidade que sem se sobrepor equilibra o sentimento. Melhor, guia o desejo. Estranho... este "trabalho" com raiz num modo de ser e de ver muito especiais, que surpreende, e, na surpresa, o prazer da descoberta de um estilo que é o Homem/a Mulher...

Sugestão: "guardar" em papel este diário...