quinta-feira, 5 de julho de 2007

Planeta-casa

Em 1977, a NASA lançava para o espaço a aeronave Voyager 2. A bordo encontrava-se um disco com gravações de sons naturais, música e saudações da Terra em 60 línguas diferentes. Em 1978, nascia Maria Gil, em Lisboa, que é hoje actriz e encenadora, artista residente no Sítio das Artes. Em Setembro de 2006, Anousheh Ansari tornava-se uma estrela mediática por ser a primeira (mulher) turista espacial. Embarcava numa viagem à órbita terrestre com duração de oito dias. Os relatos e impressões da aventura desta multi-milionária americana nascida no Irão foram publicados na internet em http://spaceblog.xprize.org/. Alguns desses posts têm uma componente de ordem 'doméstica', como as referências que a própria faz aos cuidados com a higiene pessoal... no espaço.

(...)The most interesting experience — or I should call it experiment — is washing your hair. Now I know why people keep their hair short in space. You basically take a water bag and slowly make a huge water bubble over your head and then Very Very Gently, using a dry shampoo, you wash your hair. At the slightest sudden movement, little water bubbles start floating everywhere.(...)

O trabalho de Maria Gil parte das 'cartas', mas também dos comentários dos leitores que se encontram no blog de Anousheh Ansari que, considera a artista, «reflecte as contradições do mundo contemporâneo», os nossos desejos e emoções. Tem seleccionado alguns destes textos - às vezes responde-lhes por escrito, em cartas que guarda - , são traduzidos para português e incluídos no seu caderno de encenação, a que se juntam notas que resultam de um exercício diário que consiste em tirar uma polaroid a alguém, seguida de questionário: «Se lhe oferecessem uma viagem espacial, aceitaria? Porquê?» Também encontramos no espaço de residência de Maria Gil livros e personagens de ficção científica (Barbarella, por exemplo), o nome de Isaac Asimov é referido, bem como (a história) de Ícaro.

Todo este material tem sido utilizado para as performances pontuais que tem realizado no CAMJAP e será igualmente integrado na sua apresentação dia 28 de Julho, no Open Studio. O projecto de Maria Gil intitula-se "Lar, Doce Lar". Interessam-lhe as questões de auto-representação, que se manifestam nos objectos que guardamos, que trazemos connosco (que levaríamos para o espaço, se nos separássemos da Terra?). Construir uma «arqueologia do futuro».

3 comentários:

Anónimo disse...

"...De forma em forma vejo o mundo nascer e ser criado..."

"...Limpa a luz recorta promontórios e rochedos. É tudo igual a um sonho extremamente lúcido e acordado. Sem dúvida um novo mundo nos pede novas palavras, porém é tão grande o silêncio e tão clara a transparência que eu muda encosto a minha cara na superfície das águas lisas como um chão.(...) O meu olhar tornou-se liso como um vidro. Sirvo para que as coisas se vejam..."

Sophia de M.B. Andresen,"As Grutas

Anónimo disse...

Re visitar "a casa"

trabalhas o neutro
na tua imagem
tanto que
do proprio neutro
nao guardas sinais
tao caro te é o ser.

Por isso te (des)cobrimos
deslumbrados!

Anónimo disse...

« Guardar uma coisa… »

Trabalhas um neutro
tao perfeito
que nem desse trabalho
dás sinais.

Guardas » o ser
por isso
o (des) cobrimos
deslumbrados !