quinta-feira, 26 de julho de 2007

Connector


© Henrique Figueiredo

Beatrice Catanzaro (Milão, 1975) não costuma desenvolver trabalho em atelier, porque a produção em espaços interiores (de)limitados é-lhe difícil. O que mais lhe agradou durante estes quase dois meses de residência artística foi a possibilidade de se relacionar com os outros participantes no projecto, de trocar experiências, de conhecer Lisboa e as pessoas que habitam a cidade. Delicia-se com pequenas «narrativas invisíveis» e conta o episódio em que o funcionário responsável pelo controle da temperatura do ar no CAMJAP - dentro dos procedimentos habituais museológicos - lhe disse que o espaço acusava mais 3 graus desde que tinha sido ocupado com o Sítio das Artes. «Mais 3 graus de humanidade», diz Beatrice a sorrir.

É uma artista itinerante, viajada, cujas intervenções são normalmente localizadas, sendo o seu objectivo «tocar os nervos de determinado contexto», fazendo Arte Pública. Exemplo prático: Alemanha, 2003. Beatrice instala-se num prédio, mas apercebe-se de que ninguém se dá os bons-dias, ninguém se conhece. Com fio de estendal para pendurar a roupa, Beatrice constrói uma rede, física e simbólica, que liga todos os apartamentos pelo exterior do edifício - «o processo como veículo de significado». Esta intervenção é acolhida pela vizinhança, todos participam, trocam impressões, deixam de ser desconhecidos. Tão 'simples' quanto isto. O trabalho de Beatrice assenta na mediação, é artista enquanto intermediária. «Connector» é a expressão que utiliza, num inglês fluente, para se definir artisticamente. Gera plataformas para estabelecer ligações entre pessoas e ideias, de diferentes contextos sociais, económicos, culturais.

Quando conversámos, estava a finalizar uma «animação de acção mínima» com desenho manual, que irá passar em loop no Open Studio de sábado, 28 de Julho. Entre outros trabalhos que realizou em registos variados, este projecta um efeito-dominó, literalmente, onde as peças foram colocadas em círculo e que remete para uma visão sistémica dos acontecimentos. Alguém lho apontou entretanto e Beatrice concorda: é um projecto representativo da dimensão circular de todo o seu trabalho.

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