quinta-feira, 26 de julho de 2007

Arte e Natureza


© Henrique Figueiredo

Enquanto perscrutávamos a parede que Bárbara Assis Pacheco (Lisboa, 1973) preencheu como se fossem páginas de um caderno, aproxima-se uma senhora visitante no CAMJAP e pergunta-lhe: «Você é artista?»

Uma questão legítima (nem que seja por mera curiosidade), mas que deixa Bárbara - licenciada em Arquitectura, depois Artes Plásticas e ainda Filosofia, com tese sobre Arte e Natureza («aproveitei para ler Nietzsche») - numa posição um pouco desconfortável. Responde que sim. Afinal, foi uma das vinte artistas seleccionada para o Sítio das Artes.

No seu caderno com recortes de jornal encontram-se notícias insólitas, frequentemente acompanhadas de fotos, como a da zebra que nasceu sem listras, o lémur foragido do Zoo de Lisboa que interrompeu a linha do Metropolitano durante uma hora, a baleia no Rio Tamisa que passava em frente ao Parlamento Inglês, e até a famosa imagem de Mário Soares nas Ilhas Seychelles, em 1995, montado em cima de uma tartaruga gigante... Interessam-lhe as raridades, o bizarro e a ironia, mais do que manifestos políticos. E sobretudo não quer ficar apenas pelo registo ilustrativo - apesar de lhe dar um enorme prazer folhear o livro sobre o Tahiti que tem em cima da mesa (e fazer esboços paralelamente), com trabalhos de Paul Gauguin, entre outros.

Bárbara tem aquilo que se costuma chamar «jeito para o desenho». Numa exposição que fez em 2004, com o título "Santos e Bestas", uma das inspirações, por assim dizer, foi uma notícia de que o tráfico de libélulas e marfim estava no top do comércio ilegal. Desenhou libélulas e elefantes em tamanho natural. As primeiras foram «um sucesso», todas compradas, e ainda houve pessoas que lhe pediram para pintar mais. Revira os olhos enfadada: isso não lhe interessa.

Quando viaja gosta de visitar Museus de História Natural. Os nomes científicos nas fichas de identificação de «existências» estão parcialmente transcritos na parede do seu espaço de residência, junto com uma citação de David Garnett, "A Man in the Zoo" (1924). O fascínio pelos inventários fez com que encontrasse listas de animais que os Jardins Zoológicos de todo o mundo disponibilizam na internet, com o objectivo de trocar animais, já que não é permitido comprar (ou vender). E com destaque, está também o desenho que tem a ver com o estranho caso da mulher apanhada no aeroporto, escondendo sacos de água com peixes debaixo da saia. Espécies protegidas.

2 comentários:

Anónimo disse...

Por que gostamos de vos ler...

Nada de novo no mundo para os que sentem ter visto tudo o que puderam, a quem o tempo não deixa surpreender ou entusiasmar. Os novos, hoje mais conscientes dos estragos da usura, criam o novo no seu olhar. Talham modos individuais de "salvação" que talvez sirvam aos « désabusés" .
Por aqui, a constatação de que os homens e as mulheres não desistem ( por esta ordem!) - no Sítio das Artes com trabalho e engenho - de imaginar e montar afanosamente formas de "iludir" "l' ennuie" que nos espreita a todos.
" Qui a dit qu' un homme sans divertissement est un homme plein de misères?" ou V.Ferreira, citado de cor: - No dia em que passei pela última vez o portão da escola, fiquei velho... Como nós, sem jovens sem artistas sem artistas jovens!

O que é ser "jovem de espírito"?!

Anónimo disse...

Por que gostamos de vos ler... 2

l'ennuie nous guette...

La preuve:

"Revira os olhos enfadada: isso não lhe interessa."