segunda-feira, 22 de outubro de 2007

...uma história que você nunca mais esqueceu?

«A pergunta surgiu durante as conversas, a partir de minha curiosidade em saber: com tantas histórias vividas por estes adolescentes (histórias de violência, traumas, desencantos, agressões e até alegrias) será que eles se lembrariam de apenas uma história, a mais importante?»

É assim que a artista Rosana Palazyan (Rio de Janeiro, 1963) explica a origem da série de 10 desenhos minúsculos em papel (24 x 17 cm) que apresenta actualmente na exposição Um Atlas de Acontecimentos. Uma instalação que resulta dos três anos que passou a visitar e a falar com adolescentes, de idades entre os 12 e os 17 anos, internados em reformatórios brasileiros.

«No início, o que pretendia ser uma pesquisa, passou a caracterizar meses de convivência diária, diálogos, trocas interculturais e afetivas, projetando também, em paralelo, a inserção como voluntária no processo de atividades sócio-educativas», diz ainda Rosana no texto que nos enviou.

...meu amigo morreu no meu lugar, nessa vida tenho que ser sozinho. Andou comigo mesmo se não for bandido, tá morto... é o título de um desses desenhos, escrito exactamente da mesma forma, coloquial, utilizada para verbalizar o episódio (trágico, não esquecido).

«A discrepância entre a suavidade dos materiais utilizados e a crueldade das situações recriadas é notória, exigindo do espectador uma postura mais atenta e sujeita a sentimentos contraditórios, quase sempre entre a sedução e a repulsa face ao que nos é dado a ver.(...)»

Lúcia Marques, do catálogo.

1 comentário:

Anónimo disse...

"...entre a sedução e a repulsa "

Conhecemos adolescentes que vivem agora na Europa e dizem não se recordar dos anos passados nestes internatos. São adolescentes-crianças- pequenas a quem falta anos de vida. Quando lhes chega à memoria um companheiro, nomes, imagens, cheiros - bocados do passado - querem falar. Mas o percurso não é linear. As lembranças precarias deixam-nos seres inseguros. De convivio geralmente agradavel, mas também muitas vezes ambiguo e desconfortavel.