Ângela Ferreira, a primeira (por ordem alfabética) do grupo de três artistas portugueses presentes na exposição Um Atlas de Acontecimentos, nasceu em (Lourenço Marques) Maputo, em 1958.
Na 52ª Bienal de Veneza, a decorrer até 21 de Novembro, apresenta um projecto intitulado Maison Tropicale. Mas a sua pesquisa sobre a proliferação da arquitectura modernista em África - que segundo a artista «constitui um autêntico laboratório de construção, espelhando não só tendências escultóricas, como também os condicionalismos sociais e políticos vigentes» - não ficou por aqui.
Para a mostra que encerra o Fórum Cultural O Estado do Mundo, Ângela Ferreira esteve este Verão em Moçambique, propositadamente para trazer de volta a Lisboa imagens de uma Casa de Colonos Abandonada, título do tríptico de fotografias que podemos encontrar agora na galeria de exposições temporárias do piso 0, na sede da Fundação Calouste Gulbenkian.
Sobre esta obra, lê-se no catálogo:
«Uma casa abandonada na ilha de Benguerra, arquipélago do Bazaruto. Uma ilha idílica situada a poucos quilómetros da costa sul de Moçambique. Uma casa que nunca foi acabada, que aparenta ter sido estranhamente abandonada no momento em que toda a sua estrutura de betão estava completa. Não houve tempo para acabamentos, não há sinais de alguma vez ter havido caixilhos ou portas ou vidros nas janelas. As paredes nunca foram rebocadas, ficando cinzentas de cimento e textura de lixa. Estão cobertas de escritos a carvão e outras marcas de graffiti rural. Uma espécie de carcaça oca, estrutura simbólica com ar de pertencer a subúrbios citadinos mas instalada numa ilha quase deserta. Tem tudo o que necessita para se poder identificar como arquitectura doméstica: o número de divisões, tecto e cobertura, e até mesmo a varanda. As formas são suficientemente definidas para se poder identificar o estilo e a linguagem formal. Mais um clássico bizarro da arquitectura modernista em África, que provavelmente data dos anos 60 ou 70. Uma estrutura de linhas simples, com grandes janelas panorâmicas desenhadas para permitir a continuação do exterior para o interior e vice-versa. Com algumas adaptações africanas, como a necessária versão alargada da varanda e ainda alguns detalhes escultóricos quase surreais ou tropicais que se sobrepõem à fachada do edifício. Os únicos sinais de destruição são aqueles que os vendavais e ciclones deixaram. Uma casa de colonos abandonada?»
(texto de Ângela Ferreira)
segunda-feira, 15 de outubro de 2007
Estrutura simbólica
Publicada por EdM à(s) 10:44
Etiquetas: Plataforma 3
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1 comentário:
...As casas essas parecem estáveis
mas são tão frágeis as pobres casas
Oh as casas as casas as casas
mudas testemunhas da vida
elas morrem não só ao ser demolidas
elas morrem com a morte das pessoas..."
Ruy Belo, "Todos os Poemas", Assírio & Alvim, 2001
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