quinta-feira, 19 de julho de 2007

Improvavelmente


© Henrique Figueiredo

Tínhamos hora marcada para conversar com João Paulo Serafim (Paris, 1974) no Sítio das Artes, mas foi a 'Administração' do Museu Improvável de Imagem e Arte Contemporânea (MIIAC) que nos recebeu, em pleno CAMJAP. Na declaração por escrito que prontamente nos foi apresentada lê-se que o referido museu «possui na sua biblioteca inúmeras monografias e documentos ligados à iconografia» e que «o acervo é constituído por obras de vários artistas contemporâneos», já para não falar da «vasta colecção de fotografias anónimas de várias épocas e muito diversas em géneros.»

Entrar no Museu Improvável é entrar num jogo em que a nossa percepção é desafiada. O objectivo passa por «confrontar e subverter as premissas habituais do lugar expositivo», «ou não», explorar a relação do público com a imagem e a observação que faz das imagens, e também questionar a entidade Museu, as suas formas de actuar - onde se inclui o trabalho dos Curadores - e a legitimidade(?) com que o faz.

Para além das intervenções feitas pelo Artista que o MIIAC convidou para este projecto, está a ser montada uma sequência de fotografias que, explica-nos a 'Administração', constitui «um registo documental da actividade» do/dentro do próprio museu. Vêem-se figuras a olhar para fotografias penduradas na parede. À primeira vista estas imagens não parecem revelar nada de especial, para além de provar que o Museu Improvável existe, que tem visitantes...? Repare-se que escrevemos 'figuras', e não pessoas. Foi intencional. A maior parte das 'figuras' está de costas, parecem mesmo pessoas... Não queremos confundir o leitor, mas também não queremos revelar demasiado, sob pena de já o termos feito.

Tínhamos hora marcada para falar com João Paulo Serafim e acabámos por ser absorvidos por um espaço onde o seu nome está mais latente do que presente, um espaço que fica entre a realidade e a ficção, que institucionaliza aquilo que se poderia supôr ser apenas um museu imaginário.

6 comentários:

Anónimo disse...

Ó, o modo dos advérbios mortifica-nos. Intencionalmente?
b bom dia!

Anónimo disse...

Registos do improvável

"Tínhamos hora marcada para falar com João Paulo Serafim e acabámos por ser absorvidos por um espaço onde o seu nome está mais latente do que presente, um espaço que fica entre a realidade e a ficção, que institucionaliza aquilo que se poderia supôr ser apenas um museu imaginário."

O cão a querer agarrar o rabo( como nós) foi o que compreendemos aqui. Algo parecido com « isto não é um museu » . O texto de apresentaçao deixa-nos desanimados, a alma "improvavel" para entusiasmos.Cansados.
Nao ha modo de sair de "o museu":1. "o mesmo";2. o "imaginario"; 3. o "improvavel museu imaginário”. Dito assim, tudo gasto como "o museu", velho como o Malraux - como o conceito - tudo bafiento. E acabamos na instituição da “instituição”.... Confuso?
Como o texto, ou como nós os dois, ou os três: o texto, "O Museu Improvável de Imagem e Arte Contemporânea (MIIAC)" assim apresentado, e nós a ler o texto.
é pena, até aqui tudo tão bonito, como os jovens, como aqueles que têm o privilégio de os escutar de os ver trabalhar. Tudo "apagado", hoje, com esta retorica do « o Museu ». Sempre o “Museu”...
Descoroçoados, sem "cor", sem cor, vazios.
Provavelmente sem razões, questão de imaginário...

EdM disse...

Caro anónimo,
É pena que lhe tenha escapado a dimensão irónica do conceito em que assenta o projecto de João Paulo Serafim. Também não é fácil de explicar. Caso tenha oportunidade, sugiro que visite o Sítio das Artes, até ao final desta semana. Talvez tenha uma surpresa e tire maior proveito, já que a redacção (e a leitura) destes posts não pretende substituir a apresentação do trabalho dos artistas 'in loco', embora se tente transmitir de forma fiel, na medida do possível, o conteúdo do seu discurso.
Cumprimentos.
Sara Pais

Anónimo disse...

Obrigada, edm.
Ironia, de facto nao li. A existir no projecto, e o texto a pretender sugerir, mesmo depois da chamada de atenção, atenciosa, não a encontramos.Confessamos que não nos parece que ajude a compreender o conceito ( mas isso é presunção, liberdade ao criador! )
Tudo parte do post. Até aqui temo-los lido sempre com entusiasmo, a sentir que ao lado do texto está aquele que vê, escuta e nos guia. Sim, o post nao substitui a visita. So que também é verdade que muitas vezes o encontro real desilude. A promessa de "prazer" (pre)sentido no enunciado não se cumpre. Fraca consolação, sabemo-lo, mas quem nao pode ir, tem de ficar por aqui, torna-se, por isso, mais exigente. Só este prazer lhe é permitido, só este modo de "ver" ...
Mas claro, sim há dias às vezes tristes, para todos; às vezes felizes para alguns...
24 de Julho de 2007 16:24

Anónimo disse...

Por fim...

a dificuldade esta em que é proprio à "jouissance" nao se deixar "contar"( neste caso concreto a do projecto e a do relator).
Mas estão todas - dificuldades e "jouissances" - ultrapassadas.

Ha mais edm para além deste "encontro"!
Bom dia.
MCosta

Anónimo disse...

Caro Anónimo,

compreendo a sua desilusão com mais uma investida de machismo abstracto do homem branco que parece efectuar-se neste museu "que se poderia supôr ser apenas um museu imaginário". Parece espreitar M. Malraux. Na minha opinião não espreita - ou espreita ao lado de M. Georges Duthuit, em curto-circuito dos dois. Ou seja, um museu mais "inimaginável" do que "imaginário". Não utópico mas crítico.

Atentamente,
Herr Doctor Jal, curador circunstancial