sexta-feira, 20 de julho de 2007

Actualidades

No chão estão papéis amachucados de conteúdo imperceptível, pequenos "objectos-instalação" decorrentes de trabalhos anteriores de Pedro Barateiro (Almada, 1979). Mais à frente, folhas impressas em letras capitais que colocadas em sequência formam a palavra SINDICATO. Esperamos que Pedro se aproxime para lhe perguntar de que se trata.

Foi com surpresa que quando visitou recentemente o Parque Mayer, em Lisboa, encontrou num dos seus edifícios, ainda que a funcionar de forma precária, o Sindicato das Artes e Espectáculos (Siarte). Há pessoas que vivem esse espaço, há músicos que ensaiam nessas instalações. Tem regressado para fazer entrevistas e tirar fotografias. Trabalha com película. (Consciente das especificidades do meio, quando passar para digital - «agora já é possível fazer impressões em papel de desenho, isso deixa-me tentado...» - o trabalho tomará necessariamente outra direcção.) Mostrou-nos as provas: o aspecto exterior do Sindicato é de deteriorização. Pedro Barateiro trabalha sobre «a representação, mas também a forma como o espaço modela o nosso corpo». Fala do interesse que lhe despertam «locais em estado de transformação/mutação» e também da «ruína física e intelectual». Prevê que o resultado seja uma instalação com vídeo e fotografias. Mas não terá um pendor documental. Constrói-se uma ficção, ainda que a reflexão sobre as condições de trabalho de quem se move na área cultural e das dificuldades inerentes ao meio esteja sempre presente. Hesita em chamar a este trabalho SINDICATO: «Tem conotações propagandísticas demasiado fortes.» Está mais interessado na dimensão humana do que estritamente política.

Para este trabalho utiliza imagens feitas por si. Sempre as fez, mas antes funcionavam mais como mapa mental. Poucas vezes as utilizava. Recorre frequentemente a found-footage, stillsde filmes e recortes de imprensa, o que lhe permite alguma distância do objecto. Inspirado nos Travelogues de Burton Holmes, no Verão do ano passado passou dois meses a recolher imagens no ANIM (Arquivo Nacional de Imagens em Movimento). O que o moveu para essa procura foi uma espécie de «introspecção», para tentar perceber de onde vinham as imagens passadas que lhe apareciam quando desenhava. Foi assim que surgiram trabalhos a partir de uma selecção de filmes de propaganda do Estado Novo, de Angola e Moçambique, na década de 40 e 50 - filmes a que se costumava chamar "Actualidades".

«Travelogue: trabalho que continua a investigação sobre a construção de espaços sociais e ideológicos através da interpretação de imagens.» (Pedro Barateiro)

1 comentário:

Anónimo disse...

Quero ser socio deste SINDICATO!

Trabalhar a ideia de "Mitologias": agora estou no meio, não sou o olho fora do mundo. Quero ver-me nele. E tu também (te) queres ver ?
Eu quero.
Quero ser socio deste SINDICATO!