segunda-feira, 4 de junho de 2007

Uma obra nova


©João Paulo Serafim/José Manuel Silva

Era à partida um enorme desafio. Pegar em dois dos mais ensaísticos textos sobre fotografia, de uma das mais densas escritoras do século XX – Susan Sontag –, e fazer com eles, ou melhor, fazer deles uma peça de arte evitando um infinito número de armadilhas: o didactismo, o kitsch, a demagogia, a ilustração redundante. O espectáculo – será melhor dizer a obra textual-performática-visual – Ensaio é uma obra completamente conseguida. Foi hoje possível ver um primeiro ensaio completo. Está lá todo o essencial da fotografia sobre o que escreveu Susan Sontag, está lá a história da fotografia, a psicologia que a fotografia desperta em nós, estão lá algumas das melhores fotografias do mundo: de Diane Arbus a Robert Frank, e também as fotografias únicas de João Paulo Serafim, co-autor desta obra. O espectáculo é inteligente na forma como estrutura os ensaios, como fala do que fala, na forma como Víctor d'Andrade se metamorfoseia em locutor, conferencista, actor, performer com voz encantatória. A encenação de Victor Hugo Pontes despe-se de todo e qualquer narcisismo para dar a ver Susan Sontag e os seus colegas de encenação, João Paulo Serafim e Víctor d'Andrade. E isso, que é raro, resulta numa obra nova de teatro.

O espectáculo é de um pudor exemplar quando se refere às fotografias de guerra, seguindo a dimensão ética que Susan Sontag tantas vezes reclamou da arte e dos intelectuais. Eu acho - ela esteve para vir ao Estado do Mundo se entretanto não tivesse adoecido - que ela gostaria muito deste Ensaio.

APR

Ensaio estreia dia 12 de Junho, terça-feira, às 21h30, no Auditório 3 da Fundação Calouste Gulbenkian.

6 comentários:

Anónimo disse...

Temos que agradecer ao EdM a atenção que dedica à informaçao; quem ainda esta de fora é levado para dentro. Partilha-se o que se esta a fazer. Nao se apresentam apenas as coisas feitas - mas também o acontecer da preparação.

O EdM vê para todos os seus espectadores, os dia 12 e aqueles que nao poderão estar.
Todos ficam, achamos nos, sensibilizados com o "cuidado" do olhar e do dizer, questão de irem ver com os seus olhos, como puderem...

Anónimo disse...

a Lição de Bernard Stiegler
" prendre soin"...

Anónimo disse...

parabéns Victor Hugo!
quem dera eu pudesse ver...

Anónimo disse...

" no pasa nada!?"
aguardamos noticias, actualização...

e juntamo-nos a nossa voz à do anonimo que disse:

"quem dera eu pudesse ver!"

Anónimo disse...

somos muitos...
a querer
ir
ver

e

não
poder

Anónimo disse...

tenho a certeza que sim, que ela, a Susan Sontag, teria aplaudido de pé. Comovida, como nós.Menos os funcionários-Gulbenkian, pelo menos os "reconhecíveis". Um mistério que não deixa de ser para mim um mistério. Não resisto a esta apontamento na sequência de Ensaio, essa epifania: Onde estarão aqueles que se diz serem ligados à Biblioteca de Arte, ao Cam, aos serviços de educação, música e cultura...Que conferências terão ouvido, aplaudido ou contrariado? mistérios da natureza humana! Só Deus sabe, talvez lhes perdoe na sua infinita boa vontade para com os pobres e os parvos..