©Henrique Figueiredo
"Entretanto, estou diante da última caixa, meio vazia, e já passa muito da meia-noite. Afluem outros pensamentos, diferentes daqueles de que falei. Pensamentos, não: imagens, memórias. Recordações das cidades em que encontrei tanta coisa: Riga, Nápoles, Munique, Danzig, Moscovo, Florença, Basileia, Paris; recordações das sumptuosas salas de Rosenthal em Munique, da Torre dos Brasões de Danzig, da cave cheia de livros e de mofo de Süssengut, em Berlim Norte; recordações dos quartos onde tinha esses livros, do meu alojamento de estudante em Munique, do meu quarto em Berna, da solidão de Iseltvald no lago de Brienz, e finalmente o meu quarto de criança, de onde provêm apenas quatro ou cinco dos muitos milhares de livros que começa a avolumar-se à minha volta. Sorte do coleccionador, sorte do particular! (...) Para esse a posse é a mais profunda forma de relação que se pode ter com as coisas: não por elas estarem vivas nele, mas porque é ele que vive nelas. O que fiz foi levantar diante dos vossos olhos uma das suas moradas, cujos tijolos são livros. E agora, como convém, o coleccionador vai desaparecer dentro dela."
Excerto de um dos textos de Walter Benjamin, a partir dos quais Jorge Andrade encena Desempacotando a minha Biblioteca. Estreia este sábado, dia 9 de Junho, às 21h30, na Sala Polivalente do CAMJAP.
terça-feira, 5 de junho de 2007
Desempacotando recordações
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1 comentário:
Tudo muito bonito!
Encenação convite também a cada cada um de nos para que pense a sua biblioteca, o que fazer com ela, dela.
é tudo uma questao de autoridade.
A minha biblioteca é tao bonita, quanto a de WB, ainda bem para mim, mas para os outros vale alguma coisa?
Pode ser que a resposta venha da/na encenação....
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