terça-feira, 16 de outubro de 2007

Vaso de Warka (4300 anos)



O projecto The Invisible Enemy Should Not Exist, de Michael Rakowitz (Nova Iorque, 1973), consiste em reproduzir, com papel de jornal reciclado e todo o tipo de embalagens de produtos do Médio Oriente, as dezenas de artefactos arqueológicos que foram roubados do Museu Nacional do Iraque, quando foi saqueado nos dias que se seguiram à ocupação norte-americana de Bagdade, em Abril de 2003.

Para apresentar esta instalação em Lisboa, que já passou este ano pela Bienal de Sharjah e que ainda pode ser vista até ao início de Novembro na Bienal de Istambul, Michael Rakowitz, professor de Teoria e Prática Artística nos Estados Unidos, foi assistido por várias pessoas para em conjunto construirem especialmente para Um Atlas de Acontecimentos mais uma série destes artefactos. Cada um deles é acompanhado de uma ficha museológica (verdadeira, com número de inventário, etc.) e um texto cujo conteúdo o artista foi buscar a muitas das afirmações feitas sobre a pilhagem. Donald Rumsfeld, por exemplo, terá dito (numa conferência de imprensa?):

Deixem-me dizer-vos mais uma coisa. As imagens que estão a ver na televisão, repetidamente, umas atrás das outras, são sempre as mesmas, de uma pessoa qualquer a sair de um edifício com um vaso, e vêem-na 20 vezes, e pensam, «Meu Deus, havia assim tantos vasos?» (Risos.) «É possível que houvesse assim tantos vasos no país inteiro?»

Outro exemplo:

Foi declarada uma amnistia geral para as pessoas dispostas a devolver objectos roubados. Os objectos pequenos chegaram primeiro, na sua maioria trazidos por locais que pediram desculpa, dizendo que os tinham levado para os salvaguardarem. O Vaso de Warka, de 4300 anos, chegou na parte traseira de uma carrinha pick-up; a Cabeça de Warka, com data semelhante, foi encontrada num pomar em Baqubah. Até reproduções de objectos para venda na loja do museu foram devolvidas!

—Selma Al-Radi

Existe ainda uma parede móvel, onde está afixada uma time-line ilustrada com acontecimentos e personagens significativas, tanto na Arqueologia como na História recente da região.

(fotografias de Rui Gonçalves e Pauliana V. Pimentel)

2 comentários:

Anónimo disse...

artefactos delicados

Quem sabe se "as dezenas de artefactos arqueológicos que foram roubados do Museu" não se "actualizam" ao serem assim reciclados. Com o original não se sabe onde, as "reproduções" circulam acessiveis, recordam o original na forma "périssable" do nosso tempo.

Anónimo disse...

Performances da exposição


Uma bela performance de (?) dentro das infinitas possiveis de « um atlas de acontecimentos. Pessoas debruçam-se sobre « os despojos da guerra" , e, atrás, os senhores, de braço erguido, querem a vitória.
Como que uma versão actual do quadro de Delacroix « la liberté guidant le peuple". No masculino, de casaco e botões-de-punho.
Cada vez gostamos mais desta exposição, aqui, e do noso guia .