domingo, 3 de junho de 2007

Vida e Arte



O filme que fez com que mais de uma centena de pessoas tivesse saído do Grande Auditório da Fundação Calouste Gulbenkian ontem, sábado, às 2h da manhã, depois de 4 horas de cinema, é obviamente um filme de culto: Potosí, Le Temps du Voyage, de Ron Havillo, estreado em 2007 mas realizado em duas partes (em 1970, e de 1999 a 2006). O filme é – pode dizer-se - uma saga moderna sobre uma família freak "on the road". Mas, ao longo destas 4 horas, aquilo a que assistimos é às atribulações e conflitos no seio de uma família, muito em consequência de um patriarca que conjuga autoritarismo com nostalgia. Por outro lado, a par de mostrar uma família na nudez de conflitos e emoções que qualquer viagem longa provoca, o filme mostra também uma parte do mundo que choca pela pobreza, pelo desconsolo e abandono a que estão sujeitas as gentes de Potosí em pleno século XX. E de um modo invulgar dá a estas gentes um tempo de olhar, dá-lhes voz, dá-lhes o rosto e elege-os em fotografias de uma beleza assombrosa, ligando o presente ao seu passado. É um filme sobre a relação da(s) vida(s) com a arte.

APR

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