quinta-feira, 14 de junho de 2007

Paisagem

O teatro Nô que vimos ontem deve ser, mesmo para as pessoas sem muita informação sobre este género de teatro, uma experiência invulgar. É uma experiência estética como é a visão de uma bela paisagem, o som das águas de um rio, a luz singular de uma cidade, etc., mas é com certeza também uma experiência positiva sobre a estranheza da recepção artística: confrontarmo-nos com aqueles sons produzidos pelos actores e músicos, com a música produzida por aqueles instrumentos, com as posturas dos actores, com a dança do actor principal, com a beleza do figurino – tudo o que ali reluz é ouro – e perceber o rigor do trabalho, os anos de treino (sete? dez? ou uma vida inteira?), e porque será que nos encanta naturalmente, a nós, aqueles que gostaram, uma tão grande distância cultural?

APR

6 comentários:

Anónimo disse...

A estranheza da experiência estética, ao dar-nos o outro-diferente, aproxima-nos. Pelo menos deixa-nos a pensar como é bom existir outra medida de tempo, outros gestos, outras melodias e formas diferentes de exprimir essa enorme nostalgia que há no humano.

Anónimo disse...

"Mas o que a eles não toca
É a Magia que evoca
O Longe..."

Fernando Pessoa, "Mensagem"

Anónimo disse...

aqui apetecia-nos dizer que a imagem é bonita, mas estamos a ficar cansados das palavras bonitas. Calamo-nos. Vamos inventar palavras invisiveis e silenciosas. O Joao César Monteiro sabia. mesmo assim ainda condescendeu com o écran. deixou-nos a porta aberta para a sala às escuras...

Anónimo disse...

encanta, dizemos nos, porque o cultural nao é, naturalmente, natural.
o natural é assim como o " feios, porcos e maus".
jà passou de moda ( alguns nunca apreciaram tal "arte" (?) ), e o Nô, não, resiste. porque nao é natural: " e perceber o rigor do trabalho, os anos de treino (sete? dez? ou uma vida inteira?)".

Encanta, naturalmente, porque nao é natural. Estamos cansados de gente sem modos, que come com as maos, descalça os sapatos debaixo da mesa, grita, chora...
é uma delicia a cultura. ha dias às vezes tristes (depende) o cultural brinca ao natural, e ai, o natural é, "desconcertadamente", delicioso!

enfim, natureza so a do jardim do paraiso, mas porque é cultural!

Anónimo disse...

« De natura rerum »

- Prenez soin, c'est-à-dire, faites attention à la culture, ne bondissez pas comme Tarzan sur toutes les questions. Réfléchissez à sa nature, avant de vous faire casser les dents.

Sagesses:
1. Mon amie libanaise Naïda me disait souvent : repose ta tête sur ta lettre le temps d’une nuit avant de l’envoyer. Le lendemain tu verras…

2. Sophia de Mello Breyner Andersen
« … a noite há-de trazer conselho. E o dia de amanhã deve trazer algum esclarecimento . Vou-me retirar. »
O Jantar do Bispo, « Contos Exemplares »

La tête reposée…

La culture Nô est d’une autre nature. La preuve. Nous avons rêvé d’un film où une femme de 80 ans s’était préparée durant toute sa vie à jouer le rôle d’une jeune fille de 18 ans. Et le miracle attendu arriva à la fin … et elle ne faisait que poursuivre le travail de ses ancêtres…

« tudo o que ali reluz é ouro – e perceber o rigor do trabalho, os anos de treino (sete? dez? ou uma vida inteira?)
APR

– Oh la beauté de la nature de cette culture !
– Excusez-nous par la nature du premier commentaire.

Anónimo disse...

encore des excuses
pour le " par" de " par la nature"...
et la page de "O Jantar do Bispo", "Contos Exemplares", figueirinhas, 35a. edição,2004,pp 86.