quinta-feira, 28 de junho de 2007

Coisas, lugares, pessoas


© Henrique Figueiredo

Tocamos à campainha. No espaço de Joana Craveiro (Lisboa, 1974), artista residente no Sítio das Artes, está colado na entrada o seu cartão de sócia do Sport Lisboa e Benfica. Foi aí, em Benfica, que passou a infância e a adolescência. Hoje, já não reconhece o seu antigo bairro. «Onde havia uma geladaria existe agora um Banco», diz em tom definitivo, reforçando essa transformação radical dos lugares. O projecto que está a desenvolver no CAMJAP tem como título "Desaparecimento de uma cidade". É um trabalho sobre as memórias, que também tem desenvolvido com o Teatro do Vestido, de que é directora artística. É um projecto de acumulação. Nos primeiros tempos de residência foi trazendo material, objectos pessoais guardados durante os seus primeiros 20 anos de vida, resgatou muito do que encontrou nos «baús», e a pouco e pouco o espaço encheu-se de fotografias, cartas, cassetes, vinis (há sempre música a tocar, hoje era dia de Beatles) e mapas. Nas paredes lemos citações de Elizabeth Bishop e Ruy Belo («Oh as casas as casas as casas...»), entre outros. Joana Craveiro está a criar uma «dramaturgia do espaço», a cartografar, a explorar o «sofrimento» que decorre do que perdemos, do que desaparece, e que considera muito produtivo. Há um diário para ler e cartas por responder. As suas principais referências estão na poesia e na literatura de viagem. Nas artes plásticas, refere Christian Boltanski, que trabalha sobre a sua vida pessoal. Louise Bourgeois e Sophie Calle também lá estão.

É a tua vida que está aqui exposta?

Joana esboça um sorriso - não é certamente a primeira vez que lhe fazem a pergunta - e responde: «É uma edição, são memórias seleccionadas, como uma montagem cinematográfica». Uma vivência reinventada, entre a realidade e a ficção.

2 comentários:

Anónimo disse...

Sim, acompanhar é:

"Curiosidade e disponibilidade"- a amorosa atençao- que se estende ao anonimo "trabalho de casa".
Bom dia!

Anónimo disse...

"O paísdesconhecido

Por outras, palavras, Manuel, António, Pina

O que verdadeiramente preocupa o país (ou, como costuma dizer-se, "Portugal profundo", ou a massa mais crítica dele), o que o país pensa, o que o país sente, está hoje nesse formidável espaço de liberdade e controvérsia que é a blogosfera. A vantagem fundamental da blogosfera sobre os media tradicionais como fonte de informação e de auscultação do país é a da pluralidade e a da liberdade. (..)
In "Jornal de Noticias", 29/06/07