domingo, 20 de maio de 2007

Os nomes (II)

Ao pretender ser um espaço público de debate, o Fórum Cultural O Estado do Mundo tudo fará para estar atento ao debate exterior ao espaço físico da Fundação Gulbenkian, onde o mesmo decorre. E por isso estaremos atentos às discussões, às notícias, aos acontecimentos que de modo directo se relacionam com os temas em debate e as suas repercussões: na blogosfera, na comunicação social tradicional, nas programações artísticas e culturais e para o qual os contributos dos "comentadores" são fundamentais.

É bom, é fundamental ler pela manhã os jornais e a entrevista de Teresa de Sousa a Michel Wieviorka, no Público de hoje, é uma entrevista importante. Permito-me citar:

Vivemos um período histórico em que nos faltam as palavras para dizer as coisas e, se não as temos, é porque ainda não temos as categorias.
Um dia fui olhar para um dicionário histórico de língua francesa que nos diz quando uma expressão apareceu pela primeira vez. Percebi que por volta de 1880 surgiram nomes que imediatamente corresponderam a novas situações. "Laicismo", "anti-semitismo", "regionalismo" e outros. "Intelectual", por exemplo. Houve um momento em que se soube encontrar os nomes e, portanto, as novas maneiras de pensar.
Hoje não estamos a saber fazê-lo. Por isso recorremos aos "neo" e aos "pós", forjamos neologismos e utilizamos perífrases estranhas. Por exemplo, os filhos de imigrantes em França são designados por "jovens oriundos da imigração" contra os "franceses de souche". Mudámos de mundo...

APR

3 comentários:

Anónimo disse...

Les noms/ Les concepts

(...) Et les concepts, ça n’existe pas tout fait, et les concepts ca n’existe pas dans une espèce de ciel où ils attendraient qu’un philosophe les saisissent. Les concepts, il faut les fabriquer. Alors, bien sur, ca ne se fabrique pas comme ça, on ne se dit pas un jour “Tiens, je vais faire tel concept, je vais inventer tel concept“. Pas plus qu’un peintre ne se dit un jour “ tiens, je vais faire un tableau comme ça“. Il faut qu’il y ait une nécessité. Mais autant en philosophie qu’ailleurs, tout comme un cinéaste ne se dit pas “tiens, je vais faire tel film“, il faut qu’il y ait une nécessité, sinon il n’y a rien du tout.
Reste que cette nécessité qui est une chose très complexe, si elle existe, elle fait que, un philosophe je sais au moins de quoi il s’occupe, il ne s’occupe de réfléchir même sur le cinéma. Il se propose d’inventer, de créer, des concepts. Je dis que je fais de la philosophie, c’est à dire, j’essaie d’inventer des concepts. J’essaie pas de réfléchir sur autre chose. Si je dis, vous qui faites du cinéma, qu’est-ce que vous faites ? Je prends une définition aussi puérile, donc accordez la moi, il y en a sûrement d’autres et de meilleures. Je dirai juste ce que vous inventez, ce n’est pas des concepts, ce n’est pas votre affaire, ce que vous inventez c’est ce que l’on pourrait appeler des blocs de mouvements-durée. Si on fabrique un bloc de mouvements-durée, peut-être que c’est …, que… on fait du cinéma. Remarquez, il n’y a pas question d’invoquer une histoire ou de la récuser. Tout a une histoire. La philosophie aussi raconte des histoires. Elle raconte des histoires, des histoires avec des concepts. Le cinéma, je pense, mettons, supposons, qu’il raconte des histoires avec des blocs de mouvements-durée. Je peux dire que la peinture invente, elle, c’est un tout autre type de blocs, c’est ni des blocs de concepts, ni des blocs de mouvements-durée, mais supposons que ce soit des blocs de lignes-couleurs. La musique invente un autre type de bloc très très particulier, bon. Mais je dis dans tout ça, la science elle est non moins, vous savez, la science elle est non moins créatrice, je ne vois pas tellement d’opposition entre les sciences, les arts, tout ça. Si je demande à un savant : qu’est-ce qu’il fait ? Là aussi, il invente, il ne découvre pas, un savant ou du moins la découverte ça existe, mais ça en fait partie, mais ce n’est pas par là que l’on définit une actualité scientifique en tant que telle. Un savant, il a inventé, il crée autant qu’un artiste. Alors bon … Alors pour aller aussi, pour en rester dans des définitions aussi sommaires que celles dont je suis parti, tout de même, un savant, vous savez, c’est quelqu’un, c’est pas compliqué, c’est quelqu’un qui invente ou qui crée des fonctions, et il n’y a que lui. (...)

DELEUZE / CONFéRENCES
Qu’est-ce que l’acte de création ? Conférence donnée dans le cadre des mardis de la fondation Femis - 17/05/1987

Anónimo disse...

" Mudamos de mundo"
Nao mudámos de mundo, nao. A questão é que ele acelerou. « A velocidade é agora a questão central em todos os domínios da actividade humana , diz APR
E bom que haja o sentimento da necessidade de criar novas palavras, nomear as etapas da aceleraçao, torna-la consciente. No entanto as raizes , ponto de partida para a nomeaçao sao as mesmas : o homem e e os
berços, as raizes onde o pensou. A "nossa" raiz é a mesma, grega e judaico-cristã. Mesmo se começamos a mudar de paradigma e a aceitar que mais importante que raiz é a casa. : »Crear moradas (dwelling) en vez de buscar raíces. Las raíces son exclusivas y excluyentes. La morada es el reconocimiento de que nunca habitamos un lugar que no haya sido habitado por otros. ».

Sera aqui que pode entrar Mehdi Belhaj Kacem »Parte da solução – na filosofia, claro – é a ultrapassagem do niilismo pelo trágico » ?

Gostavamos de ouvir/ler APR , ele que teve o privilégio de ouvir ABK et « tout ça »…

Anónimo disse...

O ressentimento é secreto, durável e geralmente reclama vingança

21.05.2007, Clara Viana


"Dentro de 10 anos, o mais tardar, a inversão económica em curso vai gerar uma crise gravíssima. Uma das razões: o Ocidente não vai lidar bem com o facto de estar a ficar dependente de países que dependeram dele. É uma humilhação similar à que alimenta o Islão fundamentalista


Durante mais de quatro décadas, houve uma imagem que exigiu explicações ao historiador francês Marc Ferro, 83 anos, embora ele só tivesse percebido isso recentemente. Encontrou-a num documentário da I Guerra Mundial: a raiva que ele viu alojar-se nos olhos de um soldado, quando este descobriu que ninguém se importava com ele ou com o inferno de que vinha de licença. O resultado dessa interpelação traduziu-se na mais recente viagem deste especialista em revolução russa, colonialismo e cinema. Ferro foi tentar perceber se há um lugar na História para o ressentimento e encontrou-o em muitas guerras e conflitos. Bin Laden é um dos seus produtos. O historiador esteve em Lisboa para uma conferência no âmbito do fórum O Estado do Mundo, promovido pela Gulbenkian.
PÚBLICO - No seu último livro*, propõe uma leitura da História, das suas guerras e crises, com origem no ressentimento. A esta luz, que conflitos estamos hoje a preparar para o futuro?
MARC FERRO - Muitos. Primeiro há um ressentimento antigo que sobrevive. E aquele que sobrevive de uma forma mais activa é o do islamismo fundamentalista. O ressentimento do islamismo não tem fronteiras e isso constitui um garante da sua sobrevivência.
O problema também é que as sociedades que têm ressentimentos não estão nunca satisfeitas. Esperam sempre mais. Quando Bin Laden bombardeou Nova Iorque não apresentou reivindicações. O ressentimento não se exprime em voz alta. Bin Laden não exprimiu o seu ressentimento contra o Ocidente, as cruzadas...
Mas ele, ou um dos seus homens, referiu-se precisamente à expulsão dos árabes de Espanha...
Depois dos atentados, não antes. Este é então o primeiro problema que vai continuar para o futuro..."
in Publico 21 Maio 2OO7