terça-feira, 8 de maio de 2007

Ensaio de "Ensaio"



O actor Víctor d'Andrade a cantar:

If I had a photograph of you,
It’s something to remind me.
I wouldn’t spend my life just wishing.


A Flock of Seagulls, "Wishing" (o vídeo está aqui - no youtube).

ENSAIO é uma encenação de Víctor Hugo Pontes, a partir de textos de Susan Sontag. Uma produção Fundação Calouste Gulbenkian - O Estado do Mundo. Estreia dia 12 de Junho, às 21h30, no Auditório 3.

Foto: Henrique Figueiredo

1 comentário:

Anónimo disse...

Aproximar- se do Mundo, pelo « O Estado do Mundo”

Recordo hoje, 8 de Maio, o que disse em Dezembro de 2006 no rescaldo da Plataforma 1 d’O Estado do Mundo - o querer deixar, fazer obra depende do momento e dos homens que o agarram, e sabem sonhar o futuro. Parecia-nos, na altura, que seria impossível fazer obra que tivesse o mesmo impacto do trabalho de APR na Culturgeste, cujos efeitos se continuam a sentir em Portugal, e a quem o Presidente da Fundação Gulbenkian confiou a concepção do Forum O Estado do Mundo, evento comemorativo maior dos 50 anos da Fundação.
Agora, passados cinco meses, temos outra opinião. À medida que nos vamos inteirando do que APR está a pôr de pé na FCG (entrevistas, blogue, site FCG) sentimos a obrigaçao de dizer que fomos ligeiros na apreciação. Hoje acreditamos que é possível voltar a ousar, por certo com menor risco, continuando a agarrar o momento e a sonhar o futuro.

Se não tivéssemos procurado informar-nos não teríamos provavelmente mudado de opinião, e continuaríamos a pensar que a abertura não se podia repetir, o tempo outro, Portugal aberto à mudança, consolados na nossa suficiência. Outra opinião chegaria por certo mais tarde, trabalhada pelos ecos do que ouvíssemos/lêssemos. Captaríamos algum aspecto mais particular que nos tocasse, ficaríamos certamente de novo admirativos perante o trabalho de APR, mas teríamos perdido a Festa que já começou com a preparação da grande Festa, não nos teríamos preparado mentalmente para esta comemoração !

Mas temos de dizer que a concepção deste Forum começa ao princípio por nos escapar, e isso é bom. Um acontecimento cultural que proponha « clássicos », mesmo os do nosso tempo, é sempre reconfortante, e se tiver à mistura umas novidades, por exemplo o que aconteceu no Festival dos 100 dias, que antecedeu a Expo 98, o sucesso estará garantido, e isso também é útil. O Festival dos 100 dias trouxe-nos muitas coisas boas do momento que nunca, de outro modo, alguns de nós teríamos oportunidade de ver : Marsalis, José van Dam, as representações do « Holandês Errante », de Wagner, « Ulisses » de Monteverdi, nunca as esquecereremos. Mas era tudo previsível, e compreende-se que fosse assim.
Com “O Estado do Mundo” é outra coisa, o previsível não cabe nele. N’ O Estado do Mundo” é a descoberta, às vezes desconfortável, porque exige trabalho, nao é dada. Sim, porque é preciso, em primeiro lugar, que cada um reconstrua o projecto, imagine as suas motivações, observe e estude como se desdobra, como se concretiza. Reconstuir e, dentro do que é a possível a cada um, aproximar-se dos autores e das obras, em suma preparar a viagem. Isto em primeiro lugar. Depois é preciso ir à procura do modo como as manifestações se articulam entre si. As licões/ a teoria com os filmes, com os espectáculos. é complexo, porque « é o momento », o que se pensa, o que se contrói na actualidade sobre O Estado do Mundo, o que se prepara no domínio do pensamento, da arte, da política, da economia, da comunicação.
Há uma ajuda, no entanto, é o sentimento de leveza que se vai criando, que gratifica o trabalho da descoberta, e que nos parece ser uma das marcas do projecto. Leveza que tem origem na abertura de espaço ao « Outro ». Leveza na natureza das obras encomendadas : música de jovens autores portugueses que, pelo que lemos nas suas declarações, deixaram falar « o seu mundo », curtas metragens, de autores de diferentes nacionalidades, que tecem « o filme ». Leveza na utilização do jardim, leveza nas propostas dos ateliers aí instalados. Leveza na liberdade de criação oferecida a todos aos artistas como, por exemplo, naquela que se anuncia para Outubro de Pedro Croft . Leveza no sentido de Italo Calvino, que a sonhava marca do século XXI. Leveza na harmoniosa integração do diverso, do Oriente à Africa, passando pela Europa até à América.
O Estado do Mundo abraça o mundo, puxa-o para nós. Há quinhentos anos partimos à descoberta do Mundo. Estamos neste momento, graças a este Forum, não a descobri-lo, mas a querer compreendê-lo na sua beleza, diversidade, estranheza e também desgraça.
Passados 500 anos, com os ensinamentos da aventura das Descobertas, temos talvez agora a ocasião de ver o Mundo com as possibilidades que nos permitem também os meios técnicos deste tempo, mas, acima de tudo, graças a APR, que pôde continuar a surpreender-nos com esta aventura, que soube interpretar, por certo, o sentir do Presidente da Fundação, que conhece, sabe onde estão os agentes/criadores/pensadores/artistas capazes de lhe darem forma, que soube entusiasmar aqueles que trabalham na Fundação pelo projecto.

Rui Vilar, Presidente da Fundaçao, está de parabéns, (já os pôde receber pela primeira parte do programa ) e só pode continuar a recebê-los, desde já, pelo que se anuncia, pela forma como se anuncia, entrevistas, artigos, « site », blogue EdM.
Ter sonhado, concebido e criado um tal projecto é ir hoje ao encontro do Mundo.
Nao é quem quer que faz obra, sonha o futuro. Rui Vilar soube ver que Portugal, Lisboa e a Fundação, se poderiam tornar palco do Mundo, para o pensar, admirar, deixar-se inebriar por ele, sofrê-lo de modo fraterno, desejá-lo, guardá-lo, à maneira do « Guardar » de António Cícero, um dos pensadores convidados. A Fundação CG continua hoje a cumprir a sua missão : contribuir para que « O Estado do Mundo » se queira salvar, ou seja, se crie no Mundo uma dinâmica de desejo de um Mundo melhor.