quarta-feira, 30 de maio de 2007

Convivialidade

Repensar a Europa que é – quer o queiremos ou não – multicultural. Mas tendo em conta as suas especificidades próprias, sem ter de aprender com as lições do outro lado do Atlântico no que toca a políticas identitárias – oxímoro segundo Paul Gilroy. Repensar a Europa e as suas nações, atendendo aos passados coloniais e à sua relação com noções de estados-nação homogéneos e homogeneizadores (tema também abordado por Miguel Vale de Almeida noutra brilhante intervenção), bem como com uma tradição europeia na sua relação com esse passado; praticar a convivialidade, não como mera conivência negligentemente tolerante, mas enquanto negociação – local e concreta, inventiva e precária – de conflitos, que permita descobrir algo que o século XVIII europeu, apesar de todo o seu etnocentrismo, também soube, por vezes, entrever, se bem que nem sempre da forma mais adequada: a humanidade comum. Humanidade que há que reinventar, de forma mais complexa, mais descentrada.

Convivialidade, mais do que hospitalidade, porque concreta e quotidiana e, por isso, política, no sentido mais amplo da palavra. Foi esta a mensagem da lição de Paul Gilroy, a demonstrar a urgência de novas teorias e de novos vocabulários, epistemologias, de se reinventar tradições.

Lição também de pedagogia e de dialogismo como o provou o debate que a encerrou. Foi bom ver a sala cheia, num país em que os discursos irónicos em torno da correcção política se limitam a repetir ataques importados, sem que as práticas criticadas conheçam a mesma aceitação e concretização.

Em suma: parabéns a esta pequena utopia numa Gulbenkian refrescada por ideias e públicos que permite adivinhar estados do mundo menos sombrios do que os prognósticos de supostos choques das civilizações gostam de augurar.

Manuela Ribeiro Sanches

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