terça-feira, 17 de outubro de 2006

Proposição

Pensar em aspectos parcelares técnicos, sociais, geográficos, políticos e económicos faz parte da condição humana; pensá-los segundo uma fórmula programática, decorre da urgência de encontrar clareza nos modos diversos de abordagem a estes aspectos e ser teoricamente produtivo. A representação do mundo, enquanto totalidade, deixou de poder ser possível e, por isso, são inadequados os modos totalitários das representações que dêem um único sentido ao mundo; no entanto, é possível incluir o político, o cultural, o económico em abordagens transdisciplinares aos factos da realidade. A globalização não é, hoje, o que era há vinte ou há trinta ou há cinquenta anos atrás, os seus aspectos predominantemente de carácter tecnológico, de economia e de migrações, a uma escala nunca anteriormente vivida, exigem análises actualizadas que incluem aceitar a diversidade de comportamentos destas realidades por vezes em conflito; a evolução do processo de globalização não é linear e é tensional; assumir a dimensão tensional deste processo e a sua imprevisibilidade faz parte desta reflexão. A circulação das obras requisitas de criatividade e os objectos de culto, bem como dos seus autores, criaram uma plataforma de internacionalismo artístico, científico e intelectual, beneficiando grupos e cidades, mas este cosmopolitismo não consegue fazer esquecer todos aqueles - os duplamente pobres – que, sem posses e sem território de pertença, perdem a vida ou a dignidade quando as procuram realizar em outros territórios estranhos. A independência de países, que marcou a história do século passado, acompanhada pela autonomia de grupos de estudo: os estudos literários, os estudos feministas, os movimentos do black power e dos gay and lesbian e os estudos culturais introduziram, na esfera do social e do cultural, a emergência de novas práticas políticas sendo que, muitas delas, se esgotaram na reivindicação pela identidade e que, constituindo uma questão central, não pode escamotear a promessa de futuro e o desejo de criar comunidades assentes na cultura e, por isso, diferentes das práticas de barbárie que persistem e insistem. Não basta, pois, que a política hoje tenha dado lugar apenas a uma atitude de precaução face ao futuro e que das práticas culturais, se espere apenas a confirmação de gostos ou o recalcamento do desejo. Pensar e equacionar modos de futuro, desafiar as práticas culturais tradicionais, encontrar respostas a questões, respostas diversas e porventura em conflito e permitir a assumpção do desejo na criatividade como na recepção artística, e na comunicação são alguns dos objectivos deste estado do mundo que é, antes de mais, um espaço público e internacional por excelência.

António Pinto Ribeiro

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