terça-feira, 17 de outubro de 2006

O Estado do Mundo: apresentação

É preciso sair do labirinto e não acomodarmo-nos a nele sobreviver. Não pactuar com o politicamente correcto nem com o fundamentalismo cujas respostas, como alertava há dias Daniel Barenboim, não servem para saber mais mas sim para evitar perguntas.
Que caminhos para encontrar a saída, quando a nossa herança cultural não parece ser o fio de Ariane que nos reconduzirá à plenitude e à paz?
Duas propostas aparentemente diversas, mas talvez coincidentes no termo do exercício.
Ensaiar estabelecer um novo paradigma. É o que nos propõe Alain Touraine para compreender o mundo de hoje. Passo-lhe a palavra:
“Durante um longo período, descrevemos e analisámos a realidade social em termos políticos: a desordem e a ordem, a paz e a guerra, o poder e o Estado, o rei e a nação, a República, o povo e a revolução. Posteriormente, a revolução industrial e o capitalismo libertaram-se do poder político e surgiram como a ‘base’ da organização social. Foi a substituição do paradigma político por um paradigma económico e social: classes sociais e riqueza, burguesia e proletariado, sindicatos e greves, estratificação e mobilidade social, desigualdades e redistribuição tornaram-se as nossas categorias mais comuns de análise.
Nos dias de hoje, dois séculos após o triunfo da economia sobre a política, estas categorias ‘sociais’ tornaram-se confusas e ofuscam uma grande parte da nossa experiência vivida. Temos portanto necessidade de um novo paradigma dado não podermos voltar ao paradigma político, sobretudo porque os problemas culturais assumiram uma importância tal que o pensamento social deve organizar-se em função deles.
É neste novo paradigma que devemos centrar-nos, para sermos capazes de identificar os novos actores e os novos conflitos, as representações do eu e do colectivo que permite um novo olhar que revela aos nossos olhos uma nova paisagem.”
Um novo paradigma que nos permita ver as novas paisagens do mundo.
A outra proposta é a de partirmos novamente para as grandes navegações. Porque há outras sociedades e outros modos de encarar o mundo e a vida. É preciso irmos novamente à descoberta do Atlântico Sul, do Oriente e do Pacífico. Lugares onde tradições seculares foram contaminadas sucessivamente: primeiro pelas cargas dos navios quinhentistas, depois por muitos viajantes e colonos até às mensagens actuais do cibernautismo. Lugares onde emergem, com a criatividade de um cruzamento genético poderoso, novas visões e novas propostas.
Num mundo globalizado, com informação disponível em tempo real, é surpreendente como a diferença e a riqueza da criação florescem; como tempos, ritmos e modos podem ser tão imprevistamente novos.
É uma proposta de reaprendermos o mundo através do encontro com o emergente noutras sociedades e com uma nova dimensão intelectual e artística onde o internacionalismo não é mais feito da justaposição de fronteiras mas exactamente do seu desvanecimento.

Emílio Rui Vilar

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